A eleição do faz de conta: como as oligarquias podem dividir Alagoas em 2026

As eleições de 2026 em Alagoas prometem muito mais do que um embate entre projetos distintos. O que se desenha, na verdade, é uma coreografia política em que chapas diferentes, articulam nos bastidores interesses comuns. Trata-se de uma possível recomposição das oligarquias locais, que buscam dividir o poder de forma pactuada, mesmo mantendo a aparência de disputa.
Três nomes dominam esse cenário: Renan Calheiros (MDB), Arthur Lira (PP) e João Henrique Caldas, o JHC (PL). Renan, aliado histórico do presidente Lula, prepara o terreno para disputar novamente o governo do estado. É uma ambição antiga que remonta à sua candidatura em 1990, quando foi derrotado. A derrota foi simbólica e marcou sua única tentativa de alcançar o executivo estadual, um capítulo inconcluso em sua trajetória política. Agora, com o filho, Renan Filho, consolidado nacionalmente como Ministro dos Transportes e senador licenciado com mandato até 2030, Renan pai volta a mirar a cadeira de governador como possível fechamento de um ciclo de poder.
Arthur Lira, mesmo fora da presidência da Câmara e sem o controle direto do chamado orçamento secreto, segue como uma das figuras mais influentes do Congresso. Articula-se para disputar o Senado, cargo que já foi ocupado por seu pai, Benedito de Lira, e mantém forte presença na política regional. Apesar da aliança com o bolsonarismo, Lira dialoga com o governo Lula e evita conflitos que comprometam sua capacidade de articulação.
JHC, prefeito reeleito de Maceió com expressiva votação, também busca reposicionamento. Embora filiado ao PL, nunca se associou à linha mais dura do partido. Pelo contrário, tem buscado aproximação com o governo federal e cogita retornar ao PSB, partido hoje sem protagonismo em Alagoas, mas que pode funcionar como ponte para essa reconfiguração política.
Mesmo com discursos distintos em nível nacional, esses grupos não descartam um entendimento local. Cada um pode lançar sua chapa, mas a movimentação de bastidores tende a evitar confrontos reais. A engenharia política em curso visa garantir o controle sobre o governo estadual e as duas vagas ao Senado, assegurando também influência nas composições proporcionais.
Esse arranjo não é apenas uma estratégia de campanha. É parte de um modelo político consolidado, em que o poder é mantido em mãos conhecidas, com decisões construídas por acordos entre cúpulas. A disputa de ideias perde espaço para alianças que priorizam estabilidade interna, controle sobre os espaços institucionais e manutenção de privilégios.
Em Alagoas, esse tipo de movimento não é novidade. A eleição de 2020 exemplifica essa lógica. A renúncia coordenada do governador e do vice-governador abriu caminho para que o deputado estadual Paulo Dantas (MDB) assumisse um mandato tampão, sendo posteriormente reeleito em 2022. Todo o processo foi articulado sob a liderança do presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (MDB), figura central nas costuras do poder estadual. Com trânsito livre entre os principais grupos políticos, Marcelo atua como articulador estratégico, ainda que não demonstre interesse declarado em disputar outros cargos.
O verdadeiro desafio em 2026 será perceber o que se move por trás da cena. Ainda que os principais grupos políticos não estejam formalmente juntos, tudo indica que atuarão de forma coordenada para garantir que seus nomes ocupem os cargos mais estratégicos do estado. Essa articulação, construída nos bastidores, tende a limitar o debate público e a restringir a renovação política. O risco é repetir uma eleição marcada pela ausência de confronto real de ideias, em que os resultados já estejam previamente alinhados entre os mesmos de sempre. Identificar esse teatro político é o primeiro passo. O segundo, mais difícil, é encontrar alternativas concretas que desafiem esse arranjo e rompam com a lógica de manutenção do poder.
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